Radfem vs Libfem

09:14



    Eu planejava fazer uma postagem explicando o básico de cada vertente feminista, mas depois do #WomensMarch, surgiu vários questionamentos sobre o RadFem e o LibFem e suas diferenças. Resolvi fazer um post só sobre isso, até porque vocês pediram e, as explicações que rolavam na timeline eram em sua maioria a mesma complicadas de entender.
   
    Bom, eu vou tentar deixar o mais leve e compreensível possível e caso tenham alguma dúvida sobre termos que eu possa utilizar, fiz um post só sobre termos feministas: ABC Feminista. Então vamos lá, vou fazer algumas explicações básicas que posso aprofundar em outros posts.


     RADFEM: 


     Pra começar, "Radfem" é uma abreviação para o Feminismo Radical. Quando usamos o "radical" nós não estamos nos referindo a algo mais bruto ou severo - dependendo do ponto de vista. Mas ao feminismo de raíz, a base dos outros.

     O Radfem é o único que faz o feminismo unicamente voltado à vivência da mulher. Desde o momento em que nascemos mulheres, quando somos controladas na infância, sofremos heteronormatividade, gravidez compulsória, etc. O RadFem é minoria no Brasil, por causa disso, é o único que discute a vivência da mulher de verdade.


    LIBFEM:

    Libfem ou feminismo liberal prega que as mulheres podem vencer a desigualdade das leis e dos costumes aos poucos, combatendo a desigualdade por meio da visibilidade feminina e representatividade.
   
    O Libfem, também fala sobre a vivência feminina mas não se aprofunda.  O foco dessa vertente são pautas capitalistas, como a igualdade de salário e a mulher no mercado de trabalho. Não existe uma problematização sobre coisas que estão enraizadas e muitas vezes passam despercebidas, como gravidez compulsória.




    Radfem e o consentimento: 
    
     Para o feminismo radical, temos a ilusão de que nós podemos escolher o que queremos e fazemos, porém quando vamos fazer somos perseguidas, excluídas e maltratadas pela sociedade. Um exemplo disso é a Imagem da Mulher na Mídia
   
     Para o Feminismo Radical, existe uma grande diferença entre ceder e consentir, mesmo que a pessoa queira fazer. É uma visão mais "fria" do consentimento. Quando por exemplo, uma mulher sobrevive como prostitua, para o feminismo radical ela está sendo vítima de estupro. Mesmo que ela tenha consentido para ter uma relação sexual, fez por causa de uma coerção, seja essa por causa de seu estado econômico ou social.

  
    LibFem e o consentimento:

      Para o libfem, nós temos o direito de escolha e não sofremos com ela. Somos individuos livres, e que não sofremos com esses moldes da sociedade.

     Quando a mulher "consente" não existe um estupro. Então, se eu sou casada, não estou com vontade de transar mas meu marido quer, e eu consinto, não é um estupro.




    Radfem e a estética: 

    Para o  RadFem, uma mulher está sempre sobre a mira dos misóginos. Desde pequenas começamos a odiar o nosso corpo e querer mudar, aliás, quem nunca passou por isso? Para vertente, quando alguém passa por algum procedimento para mudar a aparência aproximando-se do padrão de beleza, ela não está exercendo uma escolha, está fazendo algo que foi condicionada a vida toda. É necessário amar o seu corpo do jeito que ele é, não se deve mudar a sua aparência para agradar a sociedade.


     Libfem e a estética:

       Para essa vertente, o feminismo dá a oportunidade de escolha. Se você quiser colocar silicone pra me sentir melhor e mais bonita, você deve colocar. O problema dessa ideia do libfem é que, se o  “sentir melhor” é uma forma de chegar mais perto do padrão de beleza feito por homens, então tem algo errado aí!
    
      Para a vertente, nossas escolhas pessoais são meramente um empoderamento individual, não tem nada a ver com a misoginia que sofremos desde pequenas. Você deve fazer o que quiser, para que se sinta bem com seu corpo.



    Radfem e o gênero:

     "Feministas radicais são críticas do gênero em si. Não, não temos como projeto a reforma dos gêneros – nós somos abolicionistas de gênero. Vemos o gênero como uma opressão[...]" - blog Radicalistas

    Feminismo radical não é pró a "igualdade de gênero" ~ dependendo do que você entende por gênero ~ pois quer o fim do mesmo. Gênero é o que separa os individuos nas classes "Feminino" e "Masculino", é uma coisa premoldada pela socialização e anda de lado ao patriarcado. O gênero acaba sendo essencial para a opressão da classe Masculina sobre a classe Feminina. Sem os gêneros, nos vemos nos livres para se vestir, agir e amar da forma que quisermos, não importa o sexo que nascemos.


     Libfem e o gênero: 
 
      O libfem é o apoiador número 1 da igualdade de gênero ~ repetindo, depende o que você entende por gênero. A vertente tem essa ideia de que gênero é algo socialmente construído, ou seja, nós somos moldados para ser homem ou mulher e que isso não gira em torno do sexo biológico - o que você tem entre as perninhas.  



     Radfem e a sexualidade:


       Para o radfem, todas as pessoas foram condicionadas a serem heterossexuais. Quando somos crianças, somos perguntadas sobre namoradinhos, sobre ter um marido quando for "grande" e etc. Somos TODAS conduzidas para a heterossexualidade. Isso quer dizer que, existem mulheres que são lésbicas ou bissexuais e não sabem, já que somos ensinadas que isso é errado e que as lésbicas só tem essa sexualidade, por "falta de rola".

    
     Libfem e a sexualidade: 

     Para o libfem, toda mulher hétero se relaciona com um homem porque é hétero e quer e isso não deve ser questionado. Deve ser apenas respeitado. Não sofremos uma influência do mundo externo, no caso, você não sofre heterossexualidade compulsória e mesmo que as pessoas ensinem que é errado, você se identifica como homossexual.  Portanto, nós agimos com o livre-arbítrio.
     

    Radfem e os transexuais: 

     
    * O radfem é subdividido em algumas vertentes. A maior parte das feministas radicais são as TERF (Trans-Exclusionary Radical Feminists), feministas radicais que excluem transexuais. Vou falar sobre agora ~por favor não generalizar~.

     Uma das maiores polêmicas da vertente radical, é a sua relação com o movimento transexual. Bom, para início, eu como feminista radical, posso falar que pela teoria o radfem é contra QUALQUER violência para com os transexuais. Radfem nunca vai incentivar violência para com alguém claro que existem pessoas preconceituosas

     As TERFs não incluem pessoas transexuais em suas pautas, porque além de ter o movimento transexual para falar sobre isso, o foco principal do radfem são em pessoas que já nasceram com vagina, que sofrem opressão desde o momento que nascem. São pautas, vistas como mais importante para o movimento feminista.

     Realmente, existe uma briga e polêmica Transativistas X RadFems. Eu como radfem, acho que posso falar por boa parte das pessoas que também seguem a vertente, que não tentamos calar os trans porém, achamos mais necessário falar, por exemplo, sobre aborto do que sobre erro de pronome.

   Leia mais detalhadamente sobre TERFs nesse post ótimo do radfem.info.



      Libfem e os transexuais:

     O feminismo liberal é um grande apoiador da inclusão das pautas trans no feminismo. Como o gênero é algo socialmente construído, então você pode nascer homem e se sentir como mulher, sendo mulher você deve ser incluso nas pautas feministas, mesmo que não tenha passado pela mesma opressão e vivência que pessoas que já nascem do sexo feminino, passaram e passam. Isso se torna um problema quando pautas como menstruação começam, é óbvio que em uma pauta como essa, existe a exclusão de mulheres trans, e isso pode ser visto como transfobia.




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       Bom, na minha opinião essas são as diferenças mais gritantes das duas vertentes. Vale lembra que elas não são as únicas. Caso tenha notado algo errado sobre o Feminismo Liberal, por favor me contate na página "Participe" e logo vou estar revendo. Espero que eu tenha esclarecido algumas coisas, dúvidas e sugestões podem ser deixados nos comentários desse post.


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1 comentários

  1. O feminismo liberal não é pró-capitalismo, ele é pró representatividade. Nós entendemos o quanto o capitalismo gosta do patriarcado e como e lucra com as mulheres de forma injusta, mas entendemos principalmente que, enquanto esse é o sistema vigente, as mulheres devem ter oportunidades de inserir-se no mercado de trabalho de forma digna e igualitária. Entendemos também que para muitas, fazer revolução está fora de cogitação, pois as mulheres mais vulneráveis normalmente não tem essa oportunidade, e lutamos para que, mesmo dentro do capitalismo, elas tenham o poder de se sustentar e ser independente.

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