Okasos ☀️

súplica

As mulheres, desde o início da história humana sofreram opressão, agressões psicológicas e físicas para ser o que o patriarcado – sistema social no qual os homens detêm do poder – espera que elas sejam. A mulher foi socializada para ser produto de consumo do homem, para satisfazer seus prazeres e se tornar mãe da sua prole. Umas das armas mais fortes desse sistema machista, que são usadas para tornar a mulher cada vez mais submissa, são a feminilidade e o padrão de beleza.

Ser mulher nunca foi algo fácil; por anos foram deixadas de escanteio na cozinha, vivendo em uma prisão sem grade, vivendo sem espaço social. Foi propagado pelo mundo e pelas mais diversas culturas que, mulheres foram criadas parar serem submissas aos homens, frágeis e obedientes às regras. Regras essas que elas não poderiam escrever, pois até terem oportunidade e direito à política, muito sangue feminino já tinha sido derramado. Isso quer dizer que, até movimentos sociais com intuito de ajudar as causas femininas - como as inglesas "suffragettes" que foram as primeiras ativistas feministas a lutarem pelo direito ao voto feminino no Reino Unido - aparecerem, era quase impossível ter protagonismo e direito à fala. Segundo Bruna Alvarenga, em uma problematização sobre Higienismo de Gênero e a Socialização Feminina, as mulheres não poderiam ter o mesmo poder social que os homens pois desestruturaria o conceito de família. Família esta que deveria ter o homem gozando dos privilégios e direitos, enquanto as mulheres eram responsáveis unicamente pela educação dos filhos e limpeza da casa. Escritoras, cientistas, esportistas e outras que quebravam o padrão "boa moça e dona de casa" foram silenciadas por não serem o que os homens idealizavam como mulheres descentes.

Quando pequenas, meninas ganham bebês e panelinhas de brinquedos para começarem a se acostumar com o futuro que as pessoas esperam que elas tenham. É dito a elas que precisam aprender a cozinhar, passar e cuidar dos seus filhos, pois só assim poderão se casar um dia. Não é perguntado se a garota deseja ser mãe ou ter um marido, não é perguntado se ao menos ela sente atração por homens, pois é a norma padrão para se tornar uma "mulher de verdade", e caso você não queira isso para sua vida, é julgada de maneira destrutiva pela sociedade que está ao seu redor. Com isso enraizado no psicológico feminino, muitas mulheres acabam sofrendo de gravidez compulsória, ou seja, muitas não têm vocação e nem vontade, mas, para serem aceitas socialmente se tornam mães. "A mulher ter o PRIVILÉGIO de poder dizer não a maternidade, é uma conquista social feminina. Eu vou criar uma mulher (minha filha), para ser apenas MULHER." Diz Isabel Nascimento de 31 anos, que é mãe solteira e editora da página feminista TODAS Fridas. De fato, a maternidade não deve ser algo obrigatório na vida das mulheres. Se você se vê como mulher, independente de ter vontade de ter filhos ou não, casar-se ou não, você é uma mulher.

O patriarcado inventou um tipo de rótulo invisível, este que é colocado em todas as mulheres desde o momento do seu nascimento: A feminilidade. Foi ditada a maneira como elas devem se comportar, sentar, vestir e agir. Rosa tinha sido designado para meninas, independentemente se é só uma cor que não dita necessariamente se você é mais ou menos mulher. Rosa agora era sinônimo de feminilidade; assim como vestidos, salto alto, boca rosada, bons modos, voz doce e tudo que faz semiótica à fragilidade. Não, não é um problema ser feminina quando você nasce assim, o problema é se obrigar a ser assim.

Mulheres adultas se obrigam a ficar o mais infantis possível, retiram seus pelos, colocam maquiagem para cobrir suas marcas faciais, forçam suas vozes para o tom mais agudo e se mostram frágeis e submissas aos homens. O famoso pés-de-lótus foi um costume propagado na China para que as mulheres usassem pequenos sapatos de até 10cm de comprimento, quanto menor o pé mais femininas elas eram e com isso tinham mais chances de encontrarem maridos.

Mais do que retirada da liberdade física das mulheres, a feminilidade retira a essência e força delas. Ela é uma das coisas que mantem o patriarcado em poder das mulheres. Pois quanto mais femininas as pessoas são, mais fragilizadas e sem força elas se tornam, isso dá uma oportunidade para os homens, tidos como mais fortes e preparados para o mundo, colocar as mulheres às sombras. "A supremacia masculina tem alicerce na misoginia e a feminilidade é justamente a concretização da misoginia sobre cada uma de nós, mulheres. Resistir a ela não deve ser facultativo, mas um dos primeiros passos das mulheres que já querem, mesmo, enfraquecer o patriarcado." diz Keli Alexander, escritora e ativista das causas pelas mulheres.

Portanto para acabar com o padrão da socialização feminina, é necessário que a revolução comece antes de tudo dentro das mulheres, como pessoas. Descobrir se você é quem queria ser ou o que idealizaram de você. A nova geração precisa ficar consciente sobre o poder feminino e toda a história vista pelo olhar das mulheres, a escola é uma arma importante para isso. Faz-se necessário que existam mais mulheres ativas nos locais de fala, ocupando espaços que antes só eram de homens, por isso não se pode parar de lutar pelos direitos femininos. Ainda há muito pelo o que lutar.

No comentários

, by Cecilia Maria

Cecília Monteiro

Sobre Superar

Texto por @Drawinarts no Twitter

É, superação é algo gradativo e doloroso. O problema mesmo é que o mundo não colabora, sabe? O aleatório continua acertando em nossa música favorita, o facebook insiste em lembrar postagens de 2 anos atrás, as minhas roupas continuam com seu cheiro - que consegue vencer qualquer máquina de lavar. Os nossos amigos continuam sendo nossos e, por causa disso, continuam mencionando você no meio das conversas. O frio do inverno parece mais torturante já que não tenho mais seu corpo pra me aquecer. Os cobertores do meu armário nunca vão conseguir chegar aos teus pés. Fica difícil esquecer assim, me entende? Quando eu vejo que seu livro favorito ainda está jogado na minha estante, quando coloco a minha blusa que você dizia ser sua favorita, nas horas em que eu me acordo e não escuto sua respiração pesada ao meu lado ou quando abro o Netflix e sua série favorita ainda está nos "Últimos Assistidos". Minha cabeça insiste em te colocar em minhas idealizações de futuro, mesmo que você nem esteja no meu presente. De fato, me deixasse muito mal acostumada. A ligação que a gente tinha sempre foi bem forte, meio que o universo não está aceitando que ela tem que parar de existir. Ele não colabora pra que eu pare de sentir saudades do que nós fomos, a culpa não é minha. É o acaso que acha que ainda estamos juntos. Acho que todo mundo passa por isso, né? As pessoas nunca pensam no "se". Sei bem que precisamos ver um futuro com a pessoa que está do nosso lado, mas isso pode acabar cegando. Eu já to no escuro faz tempo. Se ao menos eu tivesse um manual de ser só... você ficou tão dentro de mim que eu meio que esqueci como era ser eu mesma. E eu sei que esse foi o meu pior erro: Dei tudo de mim e agora não consigo nem ser metade de quem eu já fui um dia. Um dia, quando a ficha caiu e eu me deparei comigo. Foi estranho. Não me reconheci. Foi como conhecer um irmão gêmeo que eu não sabia da existência. Acho que foi o momento mais frustrante de todos, não ser quem eu sou por não ter alguém. Daí começa todo aquele processo de amor próprio, autoconhecimento, dias de vazio, abandono da carência e aceitação. A vida vai continuar, inclusive a sua, eu não devia ficar para trás. Eu tenho tanta vida pra viver, tantos amores para amar, tantas quedas para me reconstruir. Se eu tive forças para me desmoronar por você, também tenho para me reconstruir. Espero que aconteça o mesmo com você. Nós acontecemos e foi bom. Espero que se lembre disso, afinal se a saudade existe, é porque bons momentos existiram. De cá, eu te desejo todo triunfo. Que você seja melhor sozinho do que éramos juntos. Aos pouquinhos a gente para de sentir o amargo na boca toda vez que lembra da pessoa.

No comentários

, by Cecilia Maria

La douleur exquise

Desenho por EMBA (via https://emba-dibujos.tumblr.com)

B'shert (s.); refere-se a busca de uma pessoa que irá te complementar e quem você vai complementar perfeitamente.

porque diabos eu deixei você fazer como se eu precisasse de mais? eu estava inteira até você me mostrar que a vida é mais do que o que a gente vê, que há coisas que a gente nem imagina para serem enfrentadas, que a caminhada é doce quando se tem quem ama, mesmo com os amargos que a gente esbarra em nossas jornadas. você me fez acreditar que o mundo seria seguro, se eu estivesse cercada por seus braços - você não me abraçou. inteira, até ficar dependente por completo de ti, eu estava firme e forte até todas as células do meu corpo clamarem pelo seu, quase que suplicando pra te ter. eu estava inteira até você despertar em mim, o sentimento gritante de doação. e eu me doei tanto pra ti, que agora eu sou só metade, ou menos que isso.

eu estava inteira até você chegar, e se enraizar em cada pensamento diário.

Wonderfall (n.): Alguém sobre quem você se encontra pensando o tempo inteiro. Alguém por quem você está completamente apaixonado.

é que você se foi - as pessoas sempre vão, você não se mostrou exceção nisso. o ruim mesmo foi que você me quebrou por completo, antes mesmo de partir de mim. você me quebrou. me quebrou de um jeito que eu nunca pensei que eu pudesse quebrar. eu não sei nem se vou conseguir me recuperar, e eu tenho medo de nunca encontrar as minhas partes, tenho medo de ficar faltando pedaços do que um dia eu já fui. isso me assusta. eu não quero me perder. eu não quero me machucar de novo. não existe hospital pra coração quebrado e nem procon pra reclamar do produto. eu tenho que esperar cicatrizar. sim, eu sei que cicatrizes vão ficar. é impossível desamassar uma folha completamente. ela pode até ficar reta, mas vai ter as marcas de que um dia, aquela folha foi amassada. é impossível, tirar por completo os machucados de alguem.

Jera (adj.); Estar tão assustado com uma experiência anterior que nunca mais deseja passar por aquilo novamente.

será que eu não fui o que você precisava? será que eu devia ter feito mais? que eu devia ter me entregado mais do que eu consegui? gastado mais horas com você ou ter feito seus gostos? mudar alguns hábitos, algumas opiniões. ser menos o que eu sou, pra ser mais o que você queria? aliás, se eu não sou o que você almejava, porque me fez sentir como?

Atelofobia (s.f.); Medo de imperfeição. medo de não ser suficientemente bom.

eu me odeio por todas às vezes que eu acreditei que teria importância mútua entre nós. eu sei. eu sei. você nunca falou que queria me ter, mas me olhou como se pudesse conhecer meus piores pecados.

- deve ser karma - é o que eu sempre digo quando o choro compulsivo acaba. - é.

eu derramei toda a minha alma sem pedir nada em troca. o problema foi esse. é que eu achava que poderia gastar todo o meu melhor contigo. é trágico. quando você vê o universo dentro de alguém, mas a outra pessoa não vê nada em você.

La douleur exquise (exp.); A intensa dor no coração de desejar alguém e saber que nunca poderá ter.

e machuca. céus, como machuca.