Utopia

16:31



Desenho por @drawinarts no Twitter

   Então moço, sou um produto que falhou. Um produto que foi fabricado para o sucesso mas fracassou nisso. Sou só mais um. É meio decepcionante saber que você não foi o esperado, que não correspondeu às expectativas que colocaram em você, é meio triste perceber que está de fronte ao futuro e, possivelmente o que te espera depois é o fracasso. Uma vida mediana. Não que isso seja péssimo, mas quando as pessoas colocam na sua cabeça que um dia você  vai ser a peça que dará o check-mate no xadrez, e no final do jogo, você é só mais um peão que não faz diferença nele, dói. É uma queda muito grande, ta me entendendo?

Em meus 6 anos, eu me imaginava sendo o maior astronauta-médico-físico-engenheiro-juiz-chef-jogador-arquiteto-estilista-presidente de todos  os tempos, acreditava arduamente que conseguiria com essa porra toda antes mesmo de me tornar maior de idade. Com 12, as opções diminuíram para médico-engenheiro-chef, pareciam três muito boas e que dariam para eu encaixar em 24 horas. Com 18 a opção passou a ser nada. Deu um branco, tudo desmoronou. Todos os sonhos que pareciam estar tão perto - perto o suficiente para eu tocar com a mão -  agora eram utopias. Distantes. Moço, o senhor acha que a gente sonha alto demais? Eu nunca tive medo de altura, deve ter sido isso o problema de tudo né? Nunca coloquei limites em meus desejos.

  Talvez a culpa tenha sido desse monte de esperança que colocaram em mim quando era mais novo, a culpa deve ser desses contos de fadas que me fizeram acreditar que eu teria um final feliz e vitorioso. Mas nem sempre as coisas chegam com facilidade. Nem sempre, a gente vai ter tempo o suficiente pra fazer tudo que desejamos, e às vezes, nós não temos a capacidade pra fazer aquilo que um dia achamos que iríamos tirar de letra. Que? Eu sei que eu não sou um fracasso total,  moço. Não tô dizendo isso. É que eu queria ser um herói, eu queria fazer história, sabe? Deixar um legado.

  O meu maior erro foi ter acreditado que o sucesso estaria em minhas mãos de maneira garantida, que meu futuro seria o mais brilhante e que eu estava destinada a mudar a história do mundo. Talvez, meu erro foi na infância mesmo. Deve ter sido isso, eu errei ao acreditar que todas as saídas me levariam ao ápice. Eu errei quando acreditei nas pessoas que diziam que eu estava sendo projetado para o sucesso. Errei quando comecei a achar que estamparia um livro de história - no ritmo que estou, não vou sair nem no rodapé.

  Acho que, no fundo, todo mundo é assim né? Eu to errado, moço? Vai dizer que o senhor nunca sonhou grande demais? É que a gente não entende que o tempo não para, o mundo não vai esperar por nós, só temos essa vida, coisa e tal. No fundo, todo mundo pensa que vai ter uma segunda chance, que do nada o destino vai ajudar, que vamos ter mais tempo. Ta todo mundo errado, moço. Todo mundo no mesmo mar, em barcos diferentes, tentando chegar em uma ilha qualquer. Cabe a cada um decidir que lado seguir.

   Eu não sei se o meu Eu de 6 anos ficaria satisfeito ao ver a maré que eu peguei, não. Mas, o meu Eu de agora está se esforçando para chegar em uma ilha e finalmente descansar. Isso orgulharia ele. Na verdade, acho que meu Eu de seis anos, ficaria satisfeito ao perceber que eu não me importo mais em fazer diferença na historia mundial, agora, eu só quero fazer a minha história. E isso é bom, moço.

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