Essa é Maria
14:09Maria nasceu no dia 16 de Setembro de 1999. Maria ao longo da sua infância aprendeu muita coisa com a sua família e a sociedade, aprendeu que azul é pra menino e rosa pra menina; Maria aprendeu que meninos não podiam brincar de boneca e que boneca com boneca não beijava, "só amigas ou irmãs" disse sua mãe. Maria adorava azul e os carrinhos e videogames dos seus familiares, jogos de carro, de luta... "Mas Maria, você não pode brincar disso. É de meninos. Eu vou comprar um carro rosa da Barbie e você brinca". Maria se sentia triste, deslocada e sem jeit. Maria cresceu, não achava nenhum menino bonito ao sair com suas primas na rua e isso era um absurdo! porque Maria não sentia nada ao ver um menino, suas primas ficavam loucas e Maria? Maria só olhava. Maria chegou a ficar com meninos, mas Maria não se sentia bem; beijar meninos não era ela. Aos 14, beijou a primeira menina e Maria se encontrou, Maria aos 14 se descobriu lésbica. Que absurdo, o que a família e amigos dela pensarão? E Deus, será que vai lhe julgar?
Maria entrou em crise existencial, Maria não se aceitou por muito tempo, Maria quis se suicidar; Maria morreu de diferentes formas, por dentro. Maria se assumiu para a sua mãe. "Eu aceito você mas ainda acho que é carência, nenhum menino te apareceu, por isso você procura por mulheres". Maria fez sua mãe chorar por dois meses e era ignorada por ser lésbica, mas Maria nasceu lésbica! Maria não podia e nem iria mudar por opinião dos outros.
Maria é lésbica e por ser lésbica sofre preconceito, e dos grandes!
"Maria com Maria não se faz João e não há discussão nesse ponto;
Você só é lésbica porque nenhum cara te pegou de jeito;
Odeio gays mas assisto um pornô lésbico;
Você é tão bonita, nem parece que é lésbica;
Posso assistir vocês se pegando?;
Quem é o homem da relação, Maria?;
Ah, se você não fosse lésbica, te pegava de jeito;
Mas e aí, não tá te faltando nada?;
Você é lésbica porque algum cara te decepcionou?;
Isso é só uma fase!;"
A sexualidade não é a coisa mais interessante sobre Maria. Maria tem 17 anos e isso não é modinha. Maria ama mulheres e Maria não é promíscua por isso, Maria é lésbica e não sai beijando todas que vê a sua frente. Maria não foi feita pro preconceito, Maria se escondeu por trás de uma falsa sexualidade por anos; hoje não mais. Maria enfrenta uma sociedade machista, misógena e preconceituosa. Maria leva pedras nas costas, conhecidos assassinados e todos os dias morre um de sua comunidade por amar alguém do mesmo sexo. A condição sexual de Maria não interfere na sua vida, mas o seu preconceito interfere na dela.
{Amar uma mulher é difícil. Aliás, ser uma mulher e amar uma mulher é difícil. Maria sabe que existe alguém que prefere renascer por conta disso, Maria sabe que o mundo não é bom com e para pessoas como ela. Maria sabe que ser mulher e amar uma mulher é ter certeza todos os dias que sua parceira chegará incólume em casa não só por ela ser mulher mas por amar uma mulher. Maria não pôde tocá-la sem parecer uma americana entrando em solo russo. Quando se é uma mulher e ama outra mulher, cuidado não é suficiente. Você pode tirar dez em Direito, ser uma boa neta, filha, vizinha, pagar imposto, alimentar o cachorro, cumprimentar o porteiro, fazer seu trabalho voluntário em uma ong ou até na sua cidade, no final não importa. O universo vai te culpar por algo que você nunca pediu. Somos a única espécie que mata outra carne por desejar outra alma. E por mais que seja duro, Maria merece um amor que não cabe no peito e nem é feito pra um homem. É grande demais ser uma mulher e amar outra mulher. Maria sabe agora porque não entendem.} parte de um texto da TCD.
Mas o nome de Maria não é Maria. Maria sou eu, Yanne Emery, virginiana, lésbica, enfrenta uma sociedade preconceituosa aos 17 anos. Maria são grandes mulheres que enfrentam o mundo por amarem pessoas do mesmo sexo, por sua liberdade sexual. Maria é guerreira, amante das mulheres e Maria não vai desistir nunca.
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