Desculpe o transtorno, precisamos falar sobre relacionamento abusivo.

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Conheci ele na internet. Essa frase  pode parecer normal se você imaginar os dias atuais em que todo mundo se conhece na internet e faz amizade, até porque a internet não são aqueles tipos de cartas de amor que não se fazem mais normalmente. E ele estava lá, no Instagram, curtindo minhas fotos. Nunca vou esquecer que curti as fotos dele também, ele aparentava gostar muito de sair, curtir a vida e de ter muitos amigos. Foi paixão a primeira vista, só pra mim, acho.
Fui falar com ele e ele resolveu logo em seguida pedir meu número pra me conhecer melhor, mas não de falar por ligação, como costumava ser outrora, mas por Whatsapp.
Passamos algumas madrugadas conversando sobre nossos gostos musicais, onde eu gostava de pop internacional e ele um sertanejo universitário, do Whatsapp imigramos pra a ligação, o que já deveria ter sido desde o início, a voz dele era suave e calma, me ajudava muito quando eu estava em crise.
Começamos a namorar depois de uns meses, eu com 18 e ele 21, mas parecia que a vida começava ali. Fomos morar juntos, juntamos o pouco que tinhamos e fizemos nossa vida. Assistímos séries, vimos algumas várias vezes. Rimos com os shippers (uns 4), sofremos com os haters (o resto do mundo). Aprendi o que era submissão e acho que gostei disso. Tudo que queríamos estava alí, e parecia um ponto de paz. Mas só parecia.
Com o tempo, vieram as brigas. Ele começou a desdenhar das minhas particularidades, enquanto eu abraçava as dele mesmo sendo bombas nucleares. Me proibiu de ver amigos e até mesmo de passar um tempo com a família. Me senti em um cárcere privado, insegura e desprovida de proteção e amor. Passei a escutar que eu nunca iria arrumar alguém melhor que ele, e que minhas idéias e opiniões eram ridículas porque só as dele prevaleciam. Comecei a acreditar que eu era agressiva e muito difícil de amar, se ele reclamava eu tinha que mudar porque eu estava cheia de defeitos e esses defeitos me fizeram perder família e amigos! Que absurdo, como eu mudei tão rápido? No começo eu era a mulher que ele amava e agora não sou mais, no que eu errei?
Comecei a não ser só agredida psicologicamente e verbalmente mas fisicamente também, e eu sempre achei que a culpa era minha, que eu era irritante enquanto falava, que eu provoquei, que eu irritei ele, que eu dei motivos ou até mesmo por questões de que ele teve uma infância ruim, ou um dia ruim. E eu sempre estava errada, e eu me sentia culpada por isso, porque eu nunca fazia nada certo? Isso nunca vai ter fim.
Eu me olhava no espelho e odiava a minha própria imagem, eu vangloriava a imagem dele acima da minha, eu me fiz de objeto pra que ele pudesse me usar nas horas que sentisse a vontade e cheio de desejo. Eu não sabia o que era receber amor e eu comecei a achar que aquilo que eu recebia era o que eu merecia receber. Chorava escondido pelos amigos que perdi e pela família que odiava minhas atitudes. Chorava por não saber o que fazer, por não saber pra onde ir, chorava. Medo, confusão, dor, acima de tudo, dor.
Mas, um dia depois de muito ir e voltar, bater boca, bater na minha face, ouvir discussões e desaforos, terminamos. E não foi fácil. Chorei mais do que choro com Grey's Anatomy, mas não chorei porque ele se foi mas porque pela primeira vez depois de 1 ano e meio, me senti livre. Mas também chorei porque depois de tanto estrago e energia negativa, eu não sabia me refazer só. Eu não sabia como me levantar do chão sem deixar um pedaço meu ali. Mas com a ajuda dos que me entenderam, playlists, textos sobre amor próprio e pessoas que se reaproximaram, eu levantei. Até hoje, não tem um lugar que eu vá em que alguém não diga, em algum momento: você está maravilhosa! Você conseguiu se reerguer, você conseguiu retomar o amor próprio que tinha e se fez transbordar!
Hoje, pela primeira vez, conto minha história em público. Pensei que fosse chorar ao escrever tudo isso, mas me sinto aliviada em ter me livrado de um relacionamento tóxico. Sobrevivi a devastação que ele foi em minha vida e a vontade diária de morrer. Depois do furacão eu fiz das minhas forças uma benção. Eu não sabia do significado da palavra resiliência, mas a abracei no momento mais difícil da minha vida e agora que sei o que é ser resiliente, nunca mais largo o significado que a palavra trouxe. Eu sou forte e hoje passo essa força pra quem estiver precisando e digo pra elas: você é linda, capaz e forte. Não deixe que relacionamentos tóxicos acabem com o que você é, você é muito mais do que tudo isso que lhe faz mal. Você é um ser humano cheio de amor e luz para emanar. Eu te desejo coisas lindas e inesperadas e imensas. Você é incrível por tentar.

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