Despedida

08:27


     Foi quando você levantou o braço direito, deu um sorriso-monalisa, assim sem ânimo nenhum. Foi naquela tentativa forçada de ser simpático, de passar a imagem de bom amigo que vai estar alí quando eu precisar. Aconteceu quando você se obrigou a sorrir largo, passar simpatia e falou 'Até logo!' que eu entendi. Pela primeira vez, um até logo viraria um adeus.

      Por algumas frações de segundos, eu senti um soco no estômago mas fui impedida de gritar. Um nó na garganta me calava. E assim é pior sabe? Quando a dor não sai do corpo, ela aumenta, se esconde e te faz explodir. É que existe uma barreira na mente, um orgulho, uma vontade de se mostrar forte, não pra você exatamente, mas pra mim. A gente se engana achando que está tudo bem, que não vai sofrer, que já deu  o que tinha que dar. E deu mesmo, só que admitir isso é pior que bater o dedo mindinho na quina da cama. Você sabe né? Qualquer despedida dói, qualquer despedida leva um pedaço da alma e te deixa fraco. São memórias e lembrar machuca, faz cicatrizes e ninguém nunca esquece o motivo delas. Quando se tem uma cicatriz, você nunca esquece da queda.
    
    No final de tudo, o que mais dói não é te deixar, mas ter que recomeçar, porque não estou nem um pouco a fim de começar do zero, de ter que buscar pessoas online no whatsapp para ir comigo pra balada, ter momentos artificiais entre flertes e álcool, só para não me sentir sozinho. Não quero ficar curtindo post no facebook, de xavequinho no inbox e curtindo todas as fotos dos Instagram, pra pessoa perceber que eu estou querendo algo, sabe? Eu não queria ter que mudar a minha vida novamente por alguém, alterar a rotina, ter um novo filme favorito, escutar outra banda, decidir sobre os finais de semana, falar outro bairro pra o motorista do Uber, ficar à mercê. É que na verdade, não queria perder tudo o que construí com você.

      Daí você fechou a porta e eu observei cada detalhe dela, já que agora eu vou deixar de passar por aqui  na hora de ir trabalhar, eu vou mudar a rota pra não precisar esbarrar em cada sorriso perdido nessa rua. Agora, vou ter que me acostumar com um lado vazio da cama de casal, o quarto single no hotel, o pedido único no McDonalds, a Netflix com só uma porta, o prato solitário na pia, a feira para uma pessoa só no mercado, o post sem comentário, o tweet sem quote, a selfie mais selfie de todas, vou ter que me acostumar a ser só mais um sendo só. Ainda que não valha mais a pena, você me acostumou a parar de procurar amor e, foi quando a gente parou de se amar que doeu mais que qualquer grito.

    

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