A gente é feliz e nem sabe
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Nós temos problema em ver a felicidade, mesmo. Exigentes e críticos demais quando a questão é ser feliz. A culpa é da quantidade de contos de fadas com castelos, príncipes e riquezas que a gente é acostumado a ver a vida toda. Idealizamos uma felicidade, transformamos ela em um padrão onde só pessoas que tem finais de semanas em Dubai e o resto do mês em Nova York podem ser consideradas felizes.
Uma coisa é certa, felicidade incomoda quando você não enxerga ela no cotidiano, o mundo se torna incômodo. O pior quando nós não a sentimos, é que não podemos fugir dela. No caminho para a faculdade, vai ver um casal de mãos dadas, gente idosa rindo enquanto joga damas, criança comendo chocolate e amigos gargalhando porque um caiu. Se resolver mexer no celular enquanto anda na rua, vai ver tweet de gente falando do PT que deu na balada, do casamento que foi no dia anterior, foto de casal sorridente no Instagram. Daí você decide ler algum livro no ônibus, vai ver que no final, tudo sempre fica bem. A realidade é que, quando não estamos felizes as pessoas viram estorvos.
Mas, a felicidade não é um estado de espírito constante, ela não para em um canto e fica. Ela se esconde nos detalhes, nos momentos não planejados, nos sorrisos de estranhos na rua, ela é boa em disfarces. E quando vem, a gente não consegue saber de onde, somente sentir. Esse é o problema de quem cria um padrão de felicidade: constroem um muro ao seu redor, não conseguem ver além dele.
Felicidade mesmo, é aquela que vem quando alguém elogia quem você é. Aquele tipo de elogio que você é louco para fazer a si mesmo, pra todo mundo ver, mas não faz por medo de parecer egocêntrico e arrogante. A gente sorri por dentro, cara. Isso só não é mais feliz do que quando, ninguém mais na mesa do restaurante, quer comer pizza e o último pedaço é seu.
Certeza que tu sente felicidade quando sai do expediente na sexta-feira, pois o sábado está vindo e você vai poder dormir até mais tarde, ficar o dia inteiro de pijama e almoçar no momento que você quiser. Tem coisa melhor que sentar no sofá ao lado de quem você gosta, sem falar nada. Nenhuma palavra. Nadinha. E não ser cobrado por causa de um silêncio incômodo? A gente se enche de alegria quando percebe que não precisa se esforçar pra puxar assunto, quando aproveitamos tanto o momento ao lado do outro que ficar sem falar nada é gostoso também.
Bom mesmo é fazer almoço e ter alguém para lavar a louça, ou vice-versa. Dá um alívio tão grande quando você ouve um: "pode deixar, eu lavo." parece que a alegria invadiu o seu espírito e te fez de casa, não minta. Melhor que isso só quando a visita chata que tá na sua casa, te proporciona um almoço gostoso. É uma troca mútua, você suporta ela, para ter uma comida boa. É feliz.
Somos felizes quando acordamos no meio da madrugada achando que estamos atrasados para os compromissos, mas quando olhamos pela brecha da janela e nenhum radio de sol passa, percebemos que ainda são 3h30 da madrugada e você ainda tem mais algumas horas para dormir. Não adianta fugir, ela está em todo canto.
A verdade é que não deu tempo para você percebe-la, pois ser feliz já ocupou toda a sua rotina. Só você não enxerga.
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