Socialização Feminina
09:20
As mulheres,
desde o início da história humana sofreram opressão, agressões psicológicas e
físicas para ser o que o patriarcado – sistema social no qual os homens detêm
do poder – espera que elas sejam. A mulher foi socializada para ser produto de
consumo do homem, para satisfazer seus prazeres e se tornar mãe da sua prole.
Umas das armas mais fortes desse sistema machista, que são usadas para tornar a
mulher cada vez mais submissa, são a feminilidade e o padrão de beleza.
Ser mulher
nunca foi algo fácil; por anos foram deixadas de escanteio na cozinha, vivendo
em uma prisão sem grade, vivendo sem espaço social. Foi propagado pelo mundo e
pelas mais diversas culturas que, mulheres foram criadas parar serem submissas
aos homens, frágeis e obedientes às regras. Regras essas que elas não poderiam
escrever, pois até terem oportunidade e direito à política, muito sangue
feminino já tinha sido derramado. Isso quer dizer que, até movimentos sociais
com intuito de ajudar as causas femininas - como as inglesas "suffragettes"
que foram as primeiras ativistas feministas a lutarem pelo direito ao voto
feminino no Reino Unido - aparecerem, era quase impossível ter protagonismo e
direito à fala. Segundo Bruna Alvarenga, em uma problematização sobre
Higienismo de Gênero e a Socialização Feminina, as mulheres não poderiam ter o
mesmo poder social que os homens pois desestruturaria o conceito de família.
Família esta que deveria ter o homem gozando dos privilégios e direitos,
enquanto as mulheres eram responsáveis unicamente pela educação dos filhos e
limpeza da casa. Escritoras, cientistas,
esportistas e outras que quebravam o padrão "boa moça e dona de casa"
foram silenciadas por não serem o que os homens idealizavam como mulheres descentes.
Quando pequenas,
meninas ganham bebês e panelinhas de brinquedos para começarem a se acostumar
com o futuro que as pessoas esperam que elas tenham. É dito a elas que precisam
aprender a cozinhar, passar e cuidar dos seus filhos, pois só assim poderão se
casar um dia. Não é perguntado se a garota deseja ser mãe ou ter um marido, não
é perguntado se ao menos ela sente atração por homens, pois é a norma padrão
para se tornar uma "mulher de verdade", e caso você não queira isso
para sua vida, é julgada de maneira destrutiva pela sociedade que está ao seu
redor. Com isso enraizado no psicológico feminino, muitas mulheres acabam
sofrendo de gravidez compulsória, ou seja, muitas não têm vocação e nem vontade,
mas, para serem aceitas socialmente se tornam mães. "A mulher ter o
PRIVILÉGIO de poder dizer não a maternidade, é uma conquista social feminina.
Eu vou criar uma mulher (minha filha), para ser apenas MULHER." Diz Isabel
Nascimento de 31 anos, que é mãe solteira e editora da página feminista TODAS
Fridas. De fato, a maternidade não deve ser algo obrigatório na vida das
mulheres. Se você se vê como mulher, independente de ter vontade de ter filhos
ou não, casar-se ou não, você é uma mulher.
O patriarcado
inventou um tipo de rótulo invisível, este que é colocado em todas as mulheres
desde o momento do seu nascimento: A feminilidade. Foi ditada a maneira como
elas devem se comportar, sentar, vestir e agir. Rosa tinha sido designado para
meninas, independentemente se é só uma cor que não dita necessariamente se você
é mais ou menos mulher. Rosa agora era sinônimo de feminilidade; assim como
vestidos, salto alto, boca rosada, bons modos, voz doce e tudo que faz
semiótica à fragilidade. Não, não é um problema ser feminina quando você nasce
assim, o problema é se obrigar a ser assim.
Mulheres adultas se
obrigam a ficar o mais infantis possível, retiram seus pelos, colocam maquiagem
para cobrir suas marcas faciais, forçam suas vozes para o tom mais agudo e se
mostram frágeis e submissas aos homens. O famoso pés-de-lótus foi um costume
propagado na China para que as mulheres usassem pequenos sapatos de até 10cm de
comprimento, quanto menor o pé mais femininas elas eram e com isso tinham mais
chances de encontrarem maridos.
Mais do que
retirada da liberdade física das mulheres, a feminilidade retira a essência e
força delas. Ela é uma das coisas que mantem o patriarcado em poder das
mulheres. Pois quanto mais femininas as pessoas são, mais fragilizadas e sem
força elas se tornam, isso dá uma oportunidade para os homens, tidos como mais
fortes e preparados para o mundo, colocar as mulheres às sombras. "A supremacia
masculina tem alicerce na misoginia e a feminilidade é justamente a
concretização da misoginia sobre cada uma de nós, mulheres. Resistir a ela não
deve ser facultativo, mas um dos primeiros passos das mulheres que já querem,
mesmo, enfraquecer o patriarcado." diz Keli Alexander, escritora e
ativista das causas pelas mulheres.
Portanto para
acabar com o padrão da socialização feminina, é necessário que a revolução
comece antes de tudo dentro das mulheres, como pessoas. Descobrir se você é
quem queria ser ou o que idealizaram de você. A nova geração precisa ficar
consciente sobre o poder feminino e toda a história vista pelo olhar das
mulheres, a escola é uma arma importante para isso. Faz-se necessário que
existam mais mulheres ativas nos locais de fala, ocupando espaços que antes só
eram de homens, por isso não se pode parar de lutar pelos direitos femininos.
Ainda há muito pelo o que lutar.
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